Sabe,
quando eu era pequena, minha mãe dizia que gnomos existiam, que moravam na
Irlanda, e que sempre tinham ouro. Bem, agora eu posso afirmar que tudo isso é
mentira. Obrigada por me iludir todos esses anos, mãe.
— O que está achando de Mullingar?
— Hm... Muito hospitaleiro.
— Sério?
— Sim. O que acha que eu deveria dizer?
— A maioria das pessoas classifica como... Frio.
— É, isso também.
— Olha, chegamos!
Minha
respiração acelerou um pouco. Niall me ajudou a descer do carro. Comecei a
alisar minha roupa apressadamente. Depois de algumas batidas na porta, alguém
abriu a porta.
— Niall! Finalmente você chegou!
— Oi mamãe.
— Nossa, como você está magro, tem comido direito? Vamos, vou
preparar uma pizza!
— Ahn... Mamãe? Gostaria de te apresentar a Lily. Lily, essa
é minha mãe.
A mãe
de Niall, Maura, era uma senhora de cabelos loiros e curtos, que tinha um olhar
simpático. Ela me inspecionou um pouco, mas pareceu satisfeita.
— Muito prazer, Lily.
— O prazer é todo meu, Sra. Gallagher.
— Por favor, me chame só de Maura.
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Tenho
que falar, a casa era aconchegante. Conheci o padrasto de Niall, Chris. Ele era
legal. Fui informada de que Greg, o irmão, só iria chegar no dia seguinte.
— Então, Lily, o que faz?
— Faço faculdade de moda em Nova York.
— Interessante. Por que pinta o cabelo de loiro?
— Ahn... É natural.
— Jura? Vê, Niall? Na-tu-ral.
Niall
estava comendo uma fornada de biscoitos desesperadamente. Ele olhou feio para a
mãe, e voltou a comer.
— Niall disse que era pintado.
— Niall, mentir é feio.
— Mas eu não menti! Eu não falei que era pintado, e sim
oxigenado.
— Bem, meu cabelo não é nenhum dos dois.
Terminada
a discussão sobre a cor de meu cabelo, jantamos. Depois de muitas conversas e
de um pouco de TV, chegou a hora de dormir.
— Onde fica meu quarto, Maura?
— Oh, sinto muito, mas não temos quartos suficientes. Pensei
que não haveria nenhum problema se você dormisse no mesmo quarto de Niall.
Sorri
envergonhada. Claro, não haveria problema, se Savannah não tivesse enchido
minha cabeça com coisas inapropriadas. Eu levei minha mala para o segundo quarto
à direita. Por enquanto, estava vazio.
Tomei
um banho quente e vesti meu pijama. Quando voltei para o quarto, Niall já
estava lá. Fiquei nervosa ao perceber que ele não estava completamente vestido.
— Não vai colocar uma camisa?
— Eu costumo dormir sem camisa. Tem algum problema para
você?
— Não. Claro que não. Ah, cadê a outra cama?
— Só tem uma.
Tentei
esconder meu rosto, para ele não ver o quão vermelha eu estava. Deitei-me no
lado direito da grande cama, enquanto Niall apagava as luzes. Senti quando ele
deitou na cama, bem próximo a mim.
Estava
muito frio. Mesmo estando coberta, eu tremia loucamente embaixo dos lençóis.
Infelizmente, não consegui disfarçar.
— Lily, está tremendo?
— Ahn... Não. Claro que não. Por que acha isso?
— Sabe, a cama está tremendo, e eu não estou tendo uma
convulsão.
— Tá, tudo bem. Sim, eu estou tremendo. Está muito frio.
— Não acho.
— Obrigada por expressar sua opinião. Ajudou muito.
Passaram-se
alguns minutos, com mais tremedeira, mais inquietação.
— Quer que eu te esquente?
Me
esforcei ao máximo para não ver o segundo sentido da frase.
— Quero.
Senti
braços quentes ao meu redor. Virei-me e me aconcheguei no peito de Niall. Ele
depositou um beijo em minha testa, e eu o abracei. E então, mergulhei em um
sono profundo.
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— Você dormiu com Niall! Sua safadinha!
— Não, Savannah, você entendeu errado. Eu não dormi...
— Dormiu sim! Você acabou de dizer!
— Olha, eu dormi com ele, mas não no segundo sentido.
— Ah, tá. Você é muito puritana, sabia?
Durante
a manhã seguinte, não consegui manter uma conversa sólida com Niall. Eu sabia
que nada havia acontecido, mas me sentia envergonhada do mesmo jeito. Um pouco
antes do almoço, Greg chegou.
Ele não
se parecia muito com Niall. O cabelo era curto, e estava perfeitamente
penteado. A barba estava por fazer, e seus olhos eram claros, mas não tão
azuis. Ele era casado, mas não havia levado a mulher.
— Ela resolveu visitar a família dela.
Pouco
depois da chegada de Greg, a campainha tocou novamente. Desta vez, o pai de
Niall, Bobby, resolveu se juntar ao almoço.
— Aqui está, pessoal. Temos Batata aos Murros e Ensopado de
Guinness.
Tudo
parecia delicioso, mas eu havia lido sobre a culinária Irlandesa, e sabia que a
maioria das comidas tradicionais havia cerveja. Perguntei a Niall qual era a
melhor, e ele me sugeriu a Batata aos Murros.
— Tem pouca cerveja. E eu não quero te ver bêbada.
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O
sorvete de chocolate estava delicioso. Todos ainda comiam na mesa, e isso me
fez sorrir. Eles eram bem unidos. Percebi o quanto eu havia sido idiota em
pensar que não iria me dar bem com eles.
— Gente, silêncio! Eu tenho uma coisa para falar.
— O que você vai falar agora, Niall? Que meus olhos azuis
são lentes, enquanto os seus são verdadeiros?
— Não era isso que eu ia falar, mas é uma coisa a se discutir.
— Então fale logo, por favor. Eu quero voltar a tomar
sorvete.
— Tá, tá. Bem, como todos sabem, eu não sou muito bom com
palavras...
— Disse o cara que escreveu Summer Love.
—... Mas algumas coisas tem que ser ditas. Então, como todos
sabem, Lily é minha namorada...
— Ah, jura?!
—... E eu amo muito ela. E vai fazer um ano que eu me
apaixonei por ela. Então, depois de pensar muito, eu percebi que provavelmente
não irei gostar de mais ninguém.
Niall
se virou para mim e olhou no fundo dos meus olhos por alguns instantes. Pôs as
mãos no bolso de sua calça e tirou uma caixinha vermelha.
— Eu ia comprar um colar de diamantes. Mas quando cheguei à
joalheria, pensei melhor, e comprei um anel.
Ele abriu
a caixinha, e um anel lindo, com brilhantes, ouro e uma pedra que não identifiquei.
Ela era meio alaranjada, mas também tinha traços rosados. Niall se aproximou de
mim e me ajudou a levantar da cadeira.
— Lily Thomas, você aceita... Casar comigo?



