sábado, 6 de julho de 2013

Rock Me - 3º capitulo



                Tá, eu fui meio que obrigada a ir. Quando estava em frente à porta do quarto, pensei seriamente em ir embora. Sem pensar, apertei na campainha. Me arrependi. Agora eu não podia mais fugir.
— Você veio, Alice.
— É, era isso ou passar o dia inteiro cuidando de minha amiga.
— Cuidando?
— Ela pegou uma gripe não sei de onde. Deve ser as noites animadas com os amantes dela.
— E você... Participa dessas noites.
— Tudo bem, agora você já está pedindo que eu vá embora.
— Não. Fique. Eu... Quero conversar com você.
                Olhei em volta. É, estava mais arrumado do que da outra vez. Ele fez sinal para me sentar. Quando o fiz, vi um sutiã embaixo na cama. Porque não estava nem um pouco surpresa? Lembrei-me da primeira vez que ele me ligou.
— Você... Havia dito que tinha motivos para ser...
— Não-divertida?
— Antissocial.
— Isso te interessa?
— Não realmente, mas eu queria saber.
                Eu não queria contar. Nunca havia falado sobre isso com ninguém, e Harry era definitivamente a ultima pessoa que eu contaria. Na verdade, a penúltima. A puta merecia ficar no fim.
— Minha mãe de sangue me abandonou na rua quando eu tinha 2 anos. Ela era usuária de drogas e se envolveu com um traficante. Cresci na minha família adotiva, que me deu muito carinho e amor, mas... Mesmo assim, sinto muita raiva daquela mulher. Ninguém merece ser abandonado.
                Infelizmente, comecei a chorar silenciosamente. Perdi o mínimo de dignidade que me restava. Ele passou os dedos no meu rosto, limpando minhas lágrimas. Eu queria tirar sua mão de minha face, mas não tinha forças para isso.

— Eu... Sinto muito.
— Não quero que sinta nada. Nem eu mesma sinto.
— E você escreve para poder esquecer?
— Não estamos num filme, Harry. Eu escrevo porque eu gosto.
— E... Eu vou poder ler o que você escreve?
— Nunca! Nem por cima do meu cadáver.
— Hm... Não precisa. Seria desperdício.
— Desperdício?
— É. Você é muito bonita.
                Fiquei olhando para ele, só para saber se ele estava de brincadeira. Aparentemente não. Me distanciei um pouco, só para ter certeza. Eu havia acabado de chegar, e já queria ir embora. Porque era sempre assim?
— Porque você se distanciou?
— Até isso eu preciso dizer?
— Bem, estamos no meu quarto. Então, eu posso fazer o que quiser.
— Isso definitivamente não é bom.
— Eu não vou fazer nada... Hm... Errado com você.
— Prefiro não arriscar.
                Harry estava com um sorriso malicioso. Porque era tão... Idiota? Flora diria que eu estou apaixonada. Ela estaria errada. Eu nunca iria gostar de um cara como ele. Na verdade, estou longe de me apaixonar por alguém. Muito longe.
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— O que você está fazendo aqui?
— Vim te visitar.
— Quem te deu meu endereço?
— Hm... Descobri sozinho.
— Se descobriu sozinho como chegar até aqui, deve saber também como voltar. Boa sorte.
— Você não vai nem me deixar entrar?
                O deixei entrar, erradamente. Ele sorriu quando percebeu minha pequena bagunça no sofá. Esqueci de esconder minha história que estava escrita em um caderno com letras grandes dizendo “Romance”. Não que ele soubesse ler em português, mas aquilo chamou a atenção dele.
— É a sua história?
— Não. É um caderno de entrevistas.
— Não acredito nisso.
— Então não acredite. Isso não é problema meu.
— Posso ver?
— Não. O que me faz lembrar, porque você veio?
— Por nada. Eu só... Queria saber como você está.
— Estou bem. Nos vimos ontem, Harry. É só isso?
— Na verdade, também vim te dar isso.
                Tá, eu não tinha como impedir. Foi de surpresa. Ele segurou meus braços, para ter certeza que eu não fugiria enquanto ele me beijava. Eu tentei fugir, mas não consegui. Pelo cansaço, acabei deixando rolar.

— Você gosta de mim. – ele definiu.
— Não. Já pode ir embora.
— Eu sei que você gosta de mim, Alice. Não adianta esconder.
— A porta é serventia da casa.
                Ele continuava sorrindo que nem um... Retardado. Depois que saiu, arrumei tudo e fui assistir TV. Quer dizer, não que eu tenha prestado atenção. A mesma cena passava na minha cabeça, repetidamente. Sem pensar, liguei para Flora.
— Flora, sou eu. Será que você poderia vir aqui?
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— Você está apaixonada!

— O que? Impossível.
— Olha, eu sou especialista nesse assunto, e esse é meu veredicto. Você sofre de paixão instantânea.
— Qual é o remédio? Não quero ficar com essa doença.
— O remédio é você aproveitar. A adrenalina de uma paixão é inebriante.
— Eu nunca me apaixonei, Flora. E nem quero. Na verdade, estou com muita raiva dele nesse momento.
— Não é raiva, é amor acumulado. Ele te beijou. E você deixou!
— Cansada demais para impedir.
— Quando vai ver ele de novo?
— Espero que nunca mais. Ainda tenho que organizar a entrevista para entregar à vagabunda.
— Anota o que eu estou te dizendo, você vai ficar com ele.
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                Harry me ligou no dia seguinte. Queria se encontrar na piscina exclusiva do hotel à noite. Segundo ele, só haveria nós dois. Não sei onde estava com a cabeça quando disse “que iria pensar”. Flora disse que é porque eu quero realmente vê-lo. Espero que esteja errada.
                A piscina exclusiva ficava no 6º andar. Como era noite, podíamos ver as estrelas. Harry já estava dentro da água quando entrei. Ele deu um sorriso enorme quando me viu. Assustador, definitivamente.
— Você veio.
— É, vim. Não iria perder minha única oportunidade de conhecer a piscina exclusiva.
— Se depender de mim, você virá mais vezes.
— Pois é, não depende de você.
— Não vai entrar na piscina?
— Enquanto você estiver nela, não.
— Então acho que vou ter que te forçar a entrar.
— Você não faria...
                É, ele faria. Mesmo dentro da piscina, ele puxou minha mão e eu cai na água. O pior: Ficou perto demais de mim. Perto o suficiente para me fazer olhar em seus olhos intensos. Perto o suficiente, para me beijar novamente.

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